O texto ainda prevê a importação de produtos derivados de maconha para uso medicinal, como o Canabidiol
O texto também fixa critérios para a internação involuntária de dependentes. O estabelecimento do parâmetro para diferenciar usuário de traficante é uma demanda de diversos setores da sociedade. Pelo projeto, será considerado usuário quem portar drogas em quantidade suficiente para consumir por até cinco dias. O volume da droga será calculado a partir de limites definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Fernando Henrique defendia dez dias, mas Valadares optou por um teto menor. - A lei fala que, para determinar se uma pessoa que é flagrada com drogas é consumidora ou traficante, o juiz atenderá à natureza e a quantidade da substância apreendida quando for a julgamento, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, e às circunstâncias sociais e pessoais, bem como aos antecedentes do agente. Nós resolvemos fazer uma alteração, tirando a expressão “às circunstâncias sociais e pessoais”. Por quê? Porque o policial, na hora da abordagem, pensava “bom, esse rapaz aqui é negro, só pode ser maconheiro mesmo, esse é viciado”. Agora, se ele for branquinho, tipo classe média: “ah, ele é consumidor” - explicou Valadares. O parâmetro fixado não é absoluto. Caso a pessoa flagrada com algum droga ilícita tenha menos que o suficiente para cinco dias, ainda assim ela poderá ser considerada traficante se, durante a investigação, for provado que estava traficando. O oposto também é verdadeiro: mesmo portando droga em volume maior, há possibilidade de alguém ser considerado usuário. Depois de passar pela CCJ, o texto ainda será submetido a mais quatro comissões do Senado. A proposta começou a tramitar na Câmara, onde já foi aprovado. E, caso o Senado mantenha as mudanças, precisará voltar à Câmara, que decidirá se acata ou não as alterações feitas. ‘PROGRESSO TÍMIDO’ - As sugestões de mudanças encaminhadas por Fernando Henrique Cardoso tiveram como base parecer do Instituto Igarapé, think-tank que coordena a Rede Pense Livre, por uma nova política de drogas. Ilona Szabó, diretora-executiva do instituto, enumera benefícios das mudanças, mas ainda considera o avanço tímido: - O critério dos cinco dias - que, para nós, deveria ser de dez - tenta o diminuir o espaço para julgaras pessoas pela classe e pela cor. É bastante positivo também a maneira como é tratado o papel das comunidades terapêuticas, que, para nós, precisam estar integradas com outros equipamentos do SUS. Outro ponto positivo é a importação dos derivados da cannabis para uso medicinal, que acata evidências científicas relacionadas à discussão. Acatar pedidos da sociedade civil é um progresso, mas, neste caso, tímido, porque ainda não não avança pela descriminalização. O usuário ainda terá de estar em contato com a Justiça criminal, o que tem uma série de consequências negativas, inclusive o sobrecarregamento desse sistema. A visão é compartilhada pelo advogado Emílio Figueiredo, coordenador do site Growroom, que discute a legalização da maconha. - Há um avanço muito tímido. Mas costumo falar que um metro caminhado à frente no Legislativo é um quilômetro caminhado no Judiciário. Ou seja, caso o projeto seja aprovado, servirá para avançar mais ainda nas decisões judiciais. Até dois anos atrás, não imaginaríamos que uma comissão do Senado pudesse aprovar esse tipo de mudança.
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